segunda-feira, março 31, 2008

34.

Dias seguidos, um depois do outro, olhando pela janela contra o edifício das Finanças, ou subindo ao lancil do pátio e olhando na direcção do que há-de ser a serra da Seixa, para além dos muros altos, Serapião não vê uma árvore. Não há uma árvore: um freixo, um amieiro, uma tília. O bolor, o poder da ruína, a água a escorrer do tecto, mesmo em Setembro, a meio da manhã, em não havendo uma nuvem de chuva ou neblina entre a terra e o céu. E João Pequeno? Não há notícia dele desde essa noite em que se mandou de cabeça pela janela do posto da Guarda, a meio do interrogatório, e desapareceu numa corrida trôpega por entre as macieiras e dois tiros nervosos disparados no escuro por um agente altivo que fizera com eles o exame da terceira classe.