terça-feira, março 25, 2008

20.

Deitado na cama de ferro, com a cabeça erguida em duas almofadas de sumaúma, Carlos, o Alferes, roda com enfado o convite manuscrito com volutas desenhadas a tinta-da-china. Pelo rectângulo da janela, diluída na espessura dos vidros, vê ao longe a encosta do outro lado do vale, virada ao norte, com seus pinheiros verdes e azuis, entrevê o voo largo de uma ave iluminada pelo sol da meia manhã de Setembro. A camioneta da carreira arranca finalmente pela rua de Cima, esgotadas as negociações para a retirada de um caibro de quinze arrobas atravessado na estrada: o ruído sobressaltado do motor, a algazarra das crianças correndo a seu lado. Às vezes pensa que tudo pode começar de novo. Três anos fechado no quarto da casa do largo, deitado na cama de ferro. Lá fora o voo de uma ave iluminada pelo sol de Setembro.