segunda-feira, março 17, 2008

6.

Um desconhecido sai da camioneta da carreira. Fica por instantes interdito como se procurasse um ponto de referência. É magro como um espeto. Tem ar de maricas. Tira o relógio do bolso do colete e abre a tampa de prata. Olha depois em direcção ao sol da meia manhã de Setembro com as mãos transparentes em pala: deve estar a confirmar pela ordem do mundo as qualidades mecânicas do seu instrumento suíço de precisão. Depois, sacudindo a poeira do casaco escuro, troca breves palavras com o motorista da camioneta. E avança para a entrada da Pensão Americana. A mala de carneira e passos decididos. Como se um outro mundo, sacudindo a poeira do casaco escuro, pudesse começar (o orgulho, a displicência) a partir das suas frases e do seu modo de olhar em redor.