30.
Luísa aproxima-se da porta do quarto em bicos de pés e fica por algum tempo à escuta. Encosta o ouvido à madeira e procura o som metálico de uma mala que se feche, o rumor de uma folha de papel a deslizar na escrivaninha, a ondulação de um lençol a ser puxado para a cabeceira da cama, o barulho da água a correr no lavatório, o cicio de uns lábios a ler uma carta. Não ouve um ruído. É como se o senhor professor nem respirasse. É como se fosse um fantasma. É como se a manhã, de súbito, parasse no tempo e alguém chegasse e dissesse: aqui uma árvore, aqui uma pedra, aqui uma fonte. E só então o mundo pudesse começar.