9.
Manuel Pequeno, pai de João Pequeno, está sentado no murete da taberna da Emília. Dia após dia, quando as aves da lagoa do Alto da Ribeira começam a afastar-se na direcção das encostas viradas ao norte, em sendo o Verão, e sobrevoam depois a cumeada planando em voos largos, ou rumam à veiga e se acolhem no leito de cheia à procura da precária luz dos meses frios do Outono e do Inverno, Manuel Pequeno desce a caminho do Toural e bebe aguardente com açúcar na taberna da Emília. Nem o álcool traz aos seus olhos uma única luz, um reflexo, um movimento, uma fugidia sombra. Como hoje: a camioneta da carreira chegou pela primeira vez à Vila, parou no Toural, partiu e parou de novo junto ao armazém de mobílias de Lalice. Pedro, o Louco, viu Lalice a levar um caibro de quinze arrobas atravessado um pouco acima da cintura e a estendê-lo de lado a lado na estrada de saibro; e começou a rir-se tão alto que as aves da Corredoura se desprenderam dos ramos das tílias.