terça-feira, março 18, 2008

11.

[Maria Teresa faz uma pausa e pede-me desculpa pelos «excessos de linguagem», pela «inusitada cópia de pormenores», pela «quantidade de personagens» que vai entrando na narração: «e isto ainda não é nada.» Diz saber que ficarei confuso, que me obrigarei a rever as minhas notas procurando ligações insuspeitas. E defende-se: «Tenho para mim que uma história deve contar-se como nos foi contada; se me contaram assim, assim lha entrego: sem acrescentar um ponto; sem mudar um til. Já quanto ao que disser da minha lavra, enfim, tenho os meus critérios.» Não posso deixar de sorrir: enquanto autor responsável pelo produto final desta história, passando a limpo textos apócrifos e cartas missivas, reproduzindo os diversos relatos, organizando a estrutura narrativa, não procuro outra coisa que não seja não mudar um til. Mas afinal sabemos ambos, eu e Maria Teresa, que a verdade fica sempre algures entre o que se ouve e o que se escreve, o que se viu e o que julgámos ver.]