quinta-feira, junho 29, 2006

Ainda em Junho

jcb




Os amigos regressam depois de muitos anos
Como se houvesse ainda uma árvore e a sua sombra
Como se nenhuma página se tivesse escrito
Desde o tempo em que os cadernos
Só traziam as páginas em branco
Para que a vida toda pudesse ainda acontecer

Os amigos regressam como se ateássemos
De novo as fogueiras antigas
Como se uma nuvem se despenhasse
Na linha de água dos açudes
À procura de si mesma
À procura das primeiras chuvas
Dos primeiros anos
Das primeiras palavras dos primeiros livros

domingo, junho 25, 2006

Apenas o rumor

O azul pode ser apenas o rumor de o imaginarmos erguendo-se na duna da península antes de poisar nas paredes dos tanques ou ficar assim, rarefeito, subindo vagarosamente os degraus das açoteias.

Junho

O modo como a luz e o vento se misturam deixando nas folhas das alfarrobeiras, pelo fim da tarde, um verde iluminado por dentro.

quinta-feira, junho 22, 2006

Os retratos antigos

Essa luz erguida nas paredes dos prédios ou a subir
devagar os troncos dos plátanos do parque
de estacionamento
é ainda a luz antiga a mudar de cor em abril
as saias e as camisolas com o teu perfume
penduradas no fio de arame dos pátios:
um dia chega em que vivemos só
de retratos a sépia, de rasuradas páginas.

O pântano

O meu trabalho é o de repor o lodo
nas margens.
Tarefa difícil,
pois mo levam todo.

quinta-feira, junho 15, 2006

Um último lugar

A espada mudava de lugar as linhas de fronteira
das cidades e dos impérios, desenhava bandeiras
coloridas nas cumeadas de cordilheiras distantes,
separava os estuários dos seus próprios rios.
Alguém recorda então no chão da península
a palavra imune ao exercício da usura,
a água correndo em terrenos de herdeiros
a erguer na manhã as suas vozes contra o arbítrio.

Regresso

O lento amanhecer de uma tarde de junho
pode trazer essas feridas antigas,
a ilusão do regresso à partilha das águas,
ao fogo que
nenhuma distância arrefece.

Quem não merece
o amor?

quarta-feira, junho 14, 2006

Os dias antigos

Os dias passam vagarosamente
enquanto a flor da cidreira
atravessa a idade com os seus aromas
antigos.
O lume, as luzes da cidade não
trazem refúgio nem
protecção.

É como se tudo já estivesse escrito.
Como se mais nada houvesse.
Como se o futuro não pudesse valer o
clarão de um fósforo
acendendo cigarro atrás de
cigarro a ilusão do amor.

sábado, junho 10, 2006

Um tema dos «The the»

Foi a melhor compra que fizeste
o equalizador
como é possível que esta música
nunca passe na rádio
pára depois da curva
desliga os faróis
vê como a névoa erguendo-se no
vale anuncia a manhã
é como se tudo nos pertencesse
como se tudo pudesse pertencer-nos
tudo o que realmente importa no mundo
a música
sei lá
o amor

Outra pausa e agradecimentos

Os muito sinceros agradecimentos da gerência ao contista subrealista e publicista anódino João Viegas dos Santos por ter animado o blog, durante mais uma demorada pausa, com as suas impressivas reflexões nas caixas de comentários. Aos restantes leitores, em mais esta ausência, desculpamo-nos com a excelência da colaboração do João, que procuraremos sempre manter e espicaçar e trazer-lhes sem custos adicionais. O prometido é de vidro.