terça-feira, março 18, 2008

10.

Pedro, como num romance sul-americano (continua Maria Teresa), escolheu nesse dia o odor do alecrim. Desceu o caminho do Toural e sentou-se no muro dos correios à espera da camioneta da carreira. Não é ainda a alba. Uma leve aragem cresce do rio quando a névoa começa a levantar-se e se estende pelo jardim da casa em ruína. Pedro acorda com o rumor das folhas dos salgueiros, levanta-se da esteira, passa o umbral, recolhe um minúsculo ramo de alecrim, senta-se na escaleira do pátio e olha a luz que há-de começar a levantar-se, em levantando a névoa, sobre os pinheiros mais altos da serra da Seixa. A Vila, não tarda, começará também ela a erguer-se de entre o lixo das ruas, de entre a sombra das paredes escalavradas, de entre a humidade dos muros, de entre o cheiro de excrementos humanos vazados dos alpendres. Homens e mulheres sairão de casa, entrarão em casa, descerão à veiga, subirão ao monte. Muitos haverão de escolher a sombra em vez da luz. A indiferença em vez do alecrim misturado no ar.