segunda-feira, março 31, 2008

33.

Num clamor, a camioneta da carreira desce ainda o caminho dos Campos das Trindades: mas Margarida vê já o desconhecido a entrar na Pensão Americana, a dizer «muito bom dia», a poisar no chão encerado uma mala de carneira cheia de pó. Margarida sabe que dona Fernanda sabe que esse dia poderá ser diferente; que ela o pressente de um modo difuso. Como se tudo pudesse começar de novo. Como se alguém chegasse e dissesse: aqui uma árvore, aqui um muro alinhado, aqui o caminho do monte, aqui um tanque, aqui uma casa, aqui uma encosta de carvalhos, aqui um ribeiro e suas águas sesserigas, aqui uma pedra, aqui uma fonte. E só então o mundo começasse. E só então a luz do seu corpo não queimasse as mãos e o corpo de quem acredita ainda no amor e não teme acariciar essa pele, enfrentar essa luz poderosa.