terça-feira, abril 08, 2008

Capítulo VIII

(Onde se transcrevem fragmentos do diário do engenheiro das florestas)
1.
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O caminho de terra corria por vales sinuosos, subindo à meia encosta a desviar-se do declive das vertentes a pique sobre o rio Tâmega, descendo de novo, subindo depois à cumeada no Alto de Pinho. Parámos e fiquei por algum tempo a olhar os montes arredondados que se sucediam na distância. Estava fascinado. Distingui o carvalho alvarinho do carvalho negral, a madressilva do escalheiro, a urze do tojo, o medronheiro da aveleira. Uma luminosidade leve desenhava os contornos da serra, delimitava os volumes dos maciços arbóreos, deixava ver ao longe um bosque de vidoeiros, espalhava as sombras dos freixos numa zona aplanada onde se pressentia o remanso de um rio e depois uma vertente cortada a direito a encaixar de novo as suas águas. Sorri. Criar uma paisagem é como participar da criação do mundo. E imaginava já o pinheiro bravo a erguer-se de uma a outra encosta, a descer aos talvegues, a subir às linhas de festo, e o arando a dar lugar às feteiras, a gilbardeira ou a salsaparrilha a serem vagarosamente substituídas pelas giestas e os silvados. Montei de novo e dei ordem de partida.