2.
O carregador, um ignorante boçal, ajeitou as malas em cima da mula, disse que faltava ainda uma légua bem medida até chegarmos à Vila e perguntou que coisa via eu que me fizesse sorrir, sendo certo que, olhando dali, do Alto de Pinho, para o nascente e o poente, para o norte e o sul, não se vislumbravam mais que «carreiros fodidos de andar e calhaus de pedra». Não lhe respondi que o que via era o progresso. Calei-me. E seguimos, portanto, pelo caminho de terra batida, agora quase sempre a descer até chegarmos à entrada da Vila. E foi então que uns cães raivosos apareceram a correr como desalmados pelas margens do rio. O carregador estava nervoso; pediu-me que desmontasse e prendeu as arreatas das mulas a uma amoreira fazendo tenção de se aproximar dos cães. Mas eu já não tinha paciência para o espectáculo e ordenei-lhe que regressasse. Chegámos à Vila por volta do meio-dia. E nunca mais poderei esquecer o cheiro a merda que se misturava no ar daquela manhã do dia dezassete de Novembro de mil oitocentos e oitenta e nove.