terça-feira, abril 29, 2008

Capítulo IX
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(Onde se apresentam resumos do que é possível por agora dizer-se ligando fios dispersos e se acaba por seguir um caminho imprevisto)
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1.
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O engenheiro das florestas morreu nessa noite de dezassete de Novembro de mil oitocentos e noventa. Supõe-se que Fernando Lalice (nessa altura não era ainda Lalice) o surpreendeu no quarto com Fernanda, o arrastou à Colina da Raia, o dependurou num ramo do carvalho grande, suspenso por uma corda carral enrolada ao pescoço, e lhe queimou o rosto com um archote aceso até o deixar irreconhecível. À Vila demorou a chegar essa normalidade que apenas o Pai Ventura parecia anunciar, finalmente de paz consigo, com o mundo e com a memória dos cães afogados num gralheiro abaixo da Presa do Moinho Velho. Os trabalhos na floresta acabaram pouco tempo depois: ainda veio gente de Lisboa, ainda se chegou a imaginar que o plano antigo haveria de manter-se; mas a falta de colaboração de Fernando, primeiro, e depois a sua oposição ostensiva, revelaram-se decisivas e precipitaram o fim do processo. É verdade que se tratava de uma fase experimental. O mau, no entanto, é começar: o mais certo, conhecendo a gente os políticos como conhece, é que a continuação do programa de transformação da paisagem fosse apenas uma questão de tempo.