quarta-feira, fevereiro 27, 2008

2.

Aline olhou repetidamente as fotografias da casa. Demoradamente. Durante vários dias. E é como se uma parte da sua vida começasse a regressar de um lugar que nunca existiu, de um tempo que chegou a julgar nunca ter vivido. A tristeza e o sobressalto, a melancolia e o desassossego, aos poucos, pareciam juntar-se na memória das coisas. Não havia uma linha condutora, um fio que ligasse um acontecimento a outro, uma lógica, uma cronologia: apenas imagens isoladas emergindo de entre a poeira muita fina de camadas sucessivas de escombros, resíduos, sedimento. Aline sentou-se. Ligou o computador. Abriu um programa de texto. E começou a escrever: