segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Capítulo III

(Onde Aline intui que é possível regressar ou perder uma casa para sempre)

1.

Talvez a evidência da precariedade do prazer tenha levado à invenção do amor. Talvez o amor seja o esforço (a ilusão, a vontade) de cimentar esse muro defensivo erguido com tijolos frágeis (Aline intui que o tédio decorre da aceitação da evidência da precariedade do prazer). Talvez o amor, a ser assim, se constitua como uma das mais belas e perfeitas e comoventes construções humanas. Porque, a ser assim, o amor decide-se no território da sua própria impossibilidade; porque, a ser assim, o amor exige a entrega, a permanente disponibilidade, a abdicação do que julgávamos pertencer-nos. Aline reflecte sobre tudo isto e conclui que merece o tédio. Nunca fez nada pela construção do amor; do mesmo modo que nunca fez nada para que a casa que lhe pertencia pudesse verdadeiramente pertencer-lhe.