10.
Aline estava desolada; e persistia em desfazer o negócio, em devolver-me o dinheiro que recebera por uma casa condenada à submersão. Expliquei-lhe que não me devia nada; que a nenhum de nós era dado adivinhar este desfecho infeliz. Mas Aline insistia. E acabei por compreender que a questão tinha a ver essencialmente com ela mesma: com a necessidade de que lhe pertencesse a casa de família no momento em que a barragem começasse a represar as águas; no momento em que os soalhos, e as paredes antigas de perpianho, e a empena de cimento, e as cornijas, e a tília imensa do pátio, e os muros, e as lágrimas, e os sonhos, ficassem soterrados para sempre no fundo do vale.