sábado, outubro 11, 2008

28.

Eram quase cinco horas quando chegaram ao largo do Meio da Aldeia. Os cromados do Fiat Balilla reluziam na tarde que declinava como se o pó do estradão, horas antes, não tivesse coberto a carroçaria em várias camadas e não se tivesse entranhado nas juntas e nos prumos metálicos da protecção do motor, nos aros, nos globos dos faróis; e como se o pó, já a seguir, não voltasse a recobrir tudo. Adriano, ainda assim, sorria. «Que belo passeio, ah?» João olhou a casa do padrinho, a cancela do pátio, a escaleira que dá ao terraço, os vidros da janela onde bateu com o nó dos dedos na madrugada longínqua de Julho de mil novecentos e dezanove. Um momento breve; porque de imediato entrou no carro. Sem uma palavra. E, como Luísa haveria de dizer mais tarde, «não olhou para trás uma única vez.»