Se ao menos tivéssemos suspeitado que o tempo
muda as coisas de lugar e acima de tudo nos muda,
e haveria de mudar sobretudo os lugares
que ocupávamos quando a alegria transbordava
nas mesas. Mas não: julgávamos que nós, que pelo
menos nós haveríamos de ficar imunes à desavença,
ao desacordo do mundo, à ignomínia, à sombra
das noites em que uma lâmina de súbito
substitui os afectos. Amigos agora somos ainda
como? Em boa verdade o que nos une é a memória
dum tempo que já não pode pertencer-nos
e que provavelmente nunca nos chegou a pertencer.