Se um dia perguntares: valeu a pena?
Se um dia já esqueceres os meus poemas
e tudo o que fizemos com a amena
idade e o sobressalto – fique apenas
o gesto dos teus dedos nos meus ombros
e essa lenta e demorada imagem
do teu rosto: que o resto sejam escombros
e cinza de outro lume que a voragem
do tempo consumiu. Esquece os segredos,
as frases, os silêncios, as promessas,
o amor que só jurámos ser diferente
de tanto nos doer. Mas não te esqueças
que um dia nos meus ombros os teus dedos
queimaram como lava incandescente.