quarta-feira, agosto 03, 2005

Antes do deserto

Âncoras difíceis. Por um excesso de
sombra e monotonia. Por diluição dos
limites próximos. Por imposição de nomes
sem memória. Barcos se repetem vagarosamente
na distância. Sucessivas cartas sem
resposta, rostos sem a possibilidade
das lágrimas, corpos que perderam medos
e regressos. Lembro-me de tudo. Dos primeiros
muros de betão, das luzes invertidas
dos palácios, do comércio de veredas só
inúteis. Num mapa se desenham bosques e
cidades antes do deserto. Caligrafias
longínquas. De quem nunca teve
frio ou se perdeu ou pressentiu a morte.