Eis o retrato, em forma de pergunta, que Clara Ferreira Alves faz do Algarve (suplemento «única», Expresso - link não disponível): «Como é possível estender a toalha numa areia preta, carregada de detritos, que nenhum autarca desses do Sul decidiu tornar habitável?».
A gente já nem fica de pé atrás: este é o discurso dos cronistas que são obrigados a escrever semanalmente e, em chegando o Verão, por falta de assunto, invariavelmente, contam a experiência dum restaurante cheio de cronistas onde os empregados não dão para as encomendas e a anchova escalada passou do ponto na grelha. A gente já compra os jornais, em fins de Julho, à espera deste queixumezinho saloio disfarçado de elitismo caprichoso. E já nem liga.
Mas, enfim, não pode deixar de preocupar-se: que praias anda a Clara Ferreira Alves a escolher no Algarve? Areia preta e carregada de detritos? Ó Clara, desculpe o atrevimento: mas quem é o seu conselheiro de férias? Vossemecê não andará equivocada com a geografia? Ou faz questão de chafurdar, escolhendo, não se compreendendo por que razões objectivas, a não ser por amor à literatura e ao efeito da frase, uma putativa praia remota onde as areias são pretas e carregadas de detritos? Aqui ao lado de onde agora se escreve, a escassas centenas de metros, uns autarcas desses do Sul garantem diariamente a limpeza das praias, pelo fim da tarde, não obstante as dificudades de remoção dos detritos que os cronistas aí espalham com desvelo. Essas, já se vê, vossemecê não conhece...
De resto, claro, Clara, estamos de acordo: nada a fazer quando um milhão e meio de gentinha decide acampar no Algarve durante o Agosto. Por mim – no problem: as probabilidades estatísticas de eu e a Clara nos encontrarmos no Algarve, durante as próximas semanas, são escassas: nós, de costume, saímos daqui quando vocês nos demandam; e só regressamos quando vocês, depois de por aqui deambularem e falando mal, regressam a Lisboa e às redacções.