no silêncio esconde-se às vezes o
barulho insuportável das sirenes das ambulâncias
um tremor de terra com epicentro nas condutas de água das
casas das famílias que rezam as orações da paciência
as pedras dos açudes a
ruírem pelo lado das reformas da idade
um céu difuso a reflectir o mapa da constelação dos interesses
a assimetria é sempre insuportável
é pior que o medo
é pior que um muro de escalada
é pior que ter frio
a assimetria faz erguer as palavras à altura dos símbolos
e isso é
como ter perdido tudo e
acreditar que é possível regressar a casa
às varandas da infância
ao que não tem ainda uma forma concreta
e no entanto permite dizer uma a uma as
sílabas dos
primeiros nomes do
mundo