magnífica e terrível metáfora
a dos castelos de areia
erguê-los e saber que o vento ou a maré a subir
não deixarão torres nem ameias
não deixarão intacto nenhum dos panos das muralhas
e no entanto alguém ergueu um castelo
alguém desenhou numa tarde de verão a mais improvável das metáforas
a de um reino condenado à efemeridade e ao sonho de
ser erguido de cada vez que ruir
até a ruína e o poder se confundirem
como se uma realidade fizesse parte da outra
e fosse indispensável erguer sucessivos castelos de areia
até alguém olhar da praça e ver o seu retrato por detrás dos
vidros das janelas dos palácios
a sua imagem reunida nos pedaços dispersos das
torres levadas pelo vento ou pela água das marés do equinócio
até coincidirem as palavras e os gestos
até nada haver que separe a água e a nuvem
o pensamento e a consequência
até um castelo de areia ficar como a representação perfeita
do que não pode ruir
por se saber que alguém o há-de reerguer
de cada vez que ruir