sexta-feira, janeiro 10, 2014

As Coisas que é preciso dizer. 6: os sonhos

andamos tão perdidos no tempo
que nem os sonhos parecem resistir à terraplenagem devastadora das identidades
à arrematação de selos e telégrafos
ao mísero cálculo de probabilidade dos anos de júbilo
um sonho
a caligrafia trémula de uma carta entregue em mão nos
pátios das afastadas casas da província
as velas erguidas dos barcos dos desenhos das crianças
as ruas de kiev invadidas por jovens que
recusam a contabilidade sob condição das promessas de um império
coisas simples como a folha de um álamo branco
coisas simples como rasurar o ódio e decretar o privilégio das diferenças
de longe vem a metáfora dos nossos tempos tão errados
na época das anémonas de néon
e das lâmpadas acesas nos caminhos de serrim dos presépios
jang song thaek foi expulso de uma reunião do politburo
e depois executado
por ter ousado «sonhar sonhos diferentes»