há quanto tempo não regressavas aos campos alagados onde cresce a
flor das sete pétalas
e a luz exígua do inverno fica poisada nos muros de
pedra arrumada como se pudesse tocar-se
às vezes é indispensável o afastamento do mundo
às vezes é preciso um lugar onde seja possível regressar à voz inicial
às nascentes da água
ao lento tear dos fios deslaçados no ramo escuro das enxertias
às vezes é indispensável o afastamento do
ruído e dos resíduos de uma civilização que faz do luxo a
mais alta torre dos sonhos
que sustenta um sistema moral no
princípio da acumulação de materiais
um regresso ao que ainda podia ser
para que por um instante se juntassem o lume e a nuvem
e as palavras começassem a arder na
vagarosa oscilação dos símbolos
como se fosse ainda possível esse espaço de claridade a
partir do silêncio antigo das florestas
e as agências de agiotagem tivessem que fechar as portas
por falta de adesão
à realidade