Capítulo II
[Pombal, Setembro de 1779]
O homem que entra na sege parece um mendigo. Caminha devagar. Tem uma manta sobre os ombros, um gorro de lã enfiado na cabeça, umas calças largas de saragoça. É ainda escuro. Dois jovens ajudam-no a subir o degrau, a entrar, a sentar-se. A cena tem algo de desconcertante: uma mistura de miséria e solenidade, de vulgaridade e nobreza. As cortinas de cabedal fecharam à praça o espaço interior da sege e na manhã de Setembro começou por ouvir-se o ruído metálico das rodas a correr na pedra do pavimento, o eco dos cavalos a trote.