Capítulo I
[Marco Polo]
«As Cidades Invisíveis» são uma metáfora do sonho das cidades. Não apenas das cidades longínquas que nunca visitámos, ou já derruídas, e que, por isso mesmo, dão espaço à imaginação e à mitificação das praças, das ruas, dos palácios, dos panos de muralha: «As Cidades Invisíveis» são uma metáfora do sonho de todas as cidades. Mas o sonho e as realidades concretas, não raro, misturam-se. Italo Calvino, falando do sonho, escreve sobretudo sobre a realidade que se esconde sempre aos olhos de quem visita as cidades; e que se esconde, mesmo, aos olhos de quem nasceu ou vive numa cidade e que nunca haverá de conhecê-la além da ilusão do olhar mais próximo. Todas as cidades são cidades invisíveis: o que verdadeiramente lhes pertence, o que elas verdadeiramente são, faz parte de um segredo sobre o qual é permitido especular até aproximar a realidade e a invisibilidade dela. O mais certo é que Marco Polo, falando a Kublain Kan sobre cidades imaginárias, não fale senão dos segredos intangíveis de cidades reais, materiais, verdadeiras, concretas.