10.
António Martins Mascarenhas era um dos mais dinâmicos estrategas da guerra diplomática que neste ano do Senhor de 1773 conhecia o auge. Não o movia o interesse público: mas era em nome dele, como é quase sempre, que defendia os seus interesses próprios.
Os interesses não é de costume digladiarem-se em podendo juntar-se. Os armadores catalães, que dominavam a praia com quase noventa das cem artes de xávega que aí concorriam, procuravam chamá-lo à razão: a situação interessava a todos.
Mas António Martins Mascarenhas via longe, que é muitas vezes um modo de vermos curto: e já imaginava, expulsos os catalães aos seus domínios, ser ele a dominar o empório da sardinha. Conspirou. Moveu cordelinhos. Fez aquilo a que hoje chamaríamos lóbi, termo que recentemente deixou de ser pejorativo para ser tão gabado.
António Martins Mascarenhas, vírgula: o nome de Mascarenhas constava de alguns dos relatórios enviados ao Paço. E neste mês de Setembro de 1773, enfim, sorri de ver que o mover das peças no tabuleiro legislativo, muito por sua iniciativa e empenho, começa a levar os espanhóis ao abandono dos areais da baía de Monte Gordo, que alguns designavam já por Monte do Ouro.
A coisa começava a compor-se.