sábado, setembro 24, 2005

A poesia

Chamava vento da jugoslávia a essa cor
vinda do mar da infância para as
suas mãos tranquilas. Fora do mundo
trabalhava em silêncio com o brilho das estrelas

e a memória de viagens impossíveis.
A poesia habita assim estas salas
iluminadas por janelas altas e estreitas,
o laranja do lume na boca dos fornos, o sopro leve,

os dedos em redor do vidro frágil e quente.
A eternidade cabe muitas vezes nestes gestos
simples, no cuidado com que as peças giram no ar
e se aproximam do fogo no instante certo,

no modo como a água as arrefece ou a tarde cai
abandonada à transparência do cristal. Cada
um dos objectos acabados tem um nome e nasceu
dum sonho de que não é possível regressar.