As palavras do silêncio permanecem
no lume evaporado das presas,
no material aluvionar
dos depósitos de vertente,
nos terraços das encostas declivosas
quando o inverno mistura
nas argilas vagarosas dos talvegues
a primeira e última nuvem de novembro.
As palavras do silêncio permanecem
nas estalactites de gelo dos pátios
enquanto as crianças cortam os troncos das bétulas
à entrada do inverno
e uma sombra de granizo
repete nas cumeadas
o voo pretérito dos milhafres.
As palavras do silêncio ficam guardadas
na primitiva onda do levante,
na linha de preia mar
das águas vivas equinociais,
nas gavetas fechadas das cómodas
a apodrecer nas casas em ruína.
E então compreendes que as palavras do silêncio
são feitas de pó e do escombro das obras,
de distância e esquecimento,
do labirinto de devastação
das sebes de negrilho,
do desamparo, da quietação,
do entulho de sucessivos abandonos.
[Em resposta a um repto do JPN]