Olhamos a labareda concentrados nesse
rumor que parece ser
de oxigénio a consumir-se e
pela primeira vez depois de tantos anos
ouso puxar a conversa sobre as raparigas estrangeiras
de que não chegámos nunca a saber o nome
por responderem sempre a um outro nome
que lhes dávamos. Pergunto então
se te recordas. E tu manténs
o silêncio que a memória trazia de longe e tão perto
do vento nos ramos dos salgueiros das margens
da neve descendo as encostas
até responderes vagarosamente sem erguer a cabeça
continuando a olhar a labareda
e a ouvir o seu rumor: não me lembro
de ter havido inverno durante esses dois anos
em boa verdade nunca
chegámos a acender a lareira.