domingo, setembro 07, 2008

7.

Na sala da Pensão Americana tinha mudado tudo e ficado tudo na mesma. Fernanda, dona Fernanda, casara com o professor com ar de maricas que chegou à Vila na camioneta da carreira numa manhã de Setembro de mil novecentos e vinte e um e geria o negócio à distância por cartas remetidas do Porto e cada vez mais intervaladas visitas à Vila. Uma reprodução do Rapto de Europa pendurada na parede do fundo, o aparador em madeira de carvalho correndo sob a janela larga do nascente, o louceiro com vidrinhos biselados, as mesas com toalhas de quadrados vermelhos e azuis: João Pequeno entrou e ficou assim rendido à imagem dum tempo devolvido no absurdo da sua impossibilidade. E, de súbito, Luísa. Luísa entrando pela porta do balcão sem tocar o chão da sala da Pensão Americana e a breve luz de Março a atravessar a janela e a poisar nos seus cabelos soltos sobre os ombros.