sexta-feira, janeiro 27, 2006

A chuva e os poetas sem qualidades

destes dias cinzentos é muito costume dizer-se nos poemas que:
nos remetem para os dias imensos da
infância em redor do lume
ou para o odor do saibro que
as primeiras chuvas misturam no ar
e a memória nos devolve como num espelho iluminado

entre tanto
os poetas sem qualidades falam:
da chuva concreta
das manchas que a água desenha nos tectos de estuque
das quedas aparatosas no passeio do largo
quando os velhos saem da farmácia
com os remédios do reumático
e não se vê a merda dum táxi
num raio de quinhentos metros
em redor

há questões assim que são decisivas e tão
pouca gente o reconhece:
o que seria dos críticos do expresso
o que seria de tanto mestrado e tanto mestrando
o que seria enfim do país
se não houvesse de tempos a tempos
uma polémica onde exercitar o tiro ao alvo
como esta por exemplo dos poetas sem qualidades