Inverno após inverno o coração a
preto e branco tece a monotonia desce
em fios oblíquos poisa enfim abandonado nestas
margens onde o próprio fulgor da idade
parou a descansar os ombros os braços a
voz inúmera e arável uma alegria que
o tempo foi esculpindo nos rostos e nas casas
uma serenidade tantas vezes próxima do
inquietamento e do milagre. Inverno após
inverno a preto e branco a inocência cresce
sobe às paredes mais altas desenha nas saias
e nos lenços o que só com o desejo
pode partilhar: o silêncio grande do largo
a casa fechada a monotonia dividindo com o corpo
os mapas e as razões para uma
última viagem sem pecado nem memória.