Foi uma desilusão quando compreendi
que a regra não era sermos melhores pessoas
por lermos mais ou termos uma educação
esmerada. O meu amigo Adolfo levava-nos
a palma a todos e nunca leu um livro
pela razão simples de que não sabia sequer
juntar as letras do seu nome
próprio. Ripada tenho eu levado ao longo da vida
essencialmente de gente respeitável
de berço. De gente que leu o Quixote
na versão do Aquilino para as criancinhas
e os filósofos gregos e que adormecia a ouvir Bach
e que depois se doutorou no estrangeiro.
Claro que nenhum deles me roubou
a carteira como aquele energúmeno da Campanhã
que tinha ar de não conhecer uma letra
do tamanho de um malho rodeiro mas
apenas umas unhas com tanta merda que só visto.
São mais subtis e limpos. E os advogados deles
pagam-nos ao minuto de modo a que a falta de tempo
não seja desculpa para não levarem o código
tão a pente fino como se estivessem a catar
lêndeas. Mas a questão é que o termos lido muito
ou pouco e termos tido ou não educação de berço
não é critério para que sejamos melhores ou
piores pessoas. E isso é uma coisa que
quando um dia descobrimos nos deixa,
digamos assim, melancólicos.