é quando os homens se dividem nas linhas das fronteiras e erguem bandeiras indecisas
uma pátria é às vezes um lugar onde se adormece nas noites da mudança da hora
às vezes é preciso desenhar nos mapas uma nacionalidade
um território onde seja possível dizer as palavras antigas em voz alta sem que cheguem do estrangeiro as ambulâncias voláteis da respiração assistida
às vezes é preciso recomeçar
bater com as barras de néon no discurso difuso dos orçamentos
acreditar que uma pedra pode ser uma ave
acreditar que uma sombra repete no chão o movimento vagaroso de uma nuvem
é quando nas fronteiras os homens se agasalham para não desistirem com a boca tapada por fios de arame
e ainda assim avançam contra os caminhos que parecem vir de longe em sentido contrário
se pudéssemos recomeçar um país
se pudéssemos reinventar uma linguagem
um rio seria o lugar do mundo onde mergulharíamos as mãos e as levaríamos ao rosto
para que amanhecêssemos mais perto das
nascentes da água