Na infância nenhuma máquina
ou artefacto se comparava a um helicóptero.
Nem o caterpilar com a sua pá imensa.
Os helicópteros voavam sobre os lancis ou ficavam
imóveis movendo apenas as hélices
quase silenciosas nas linhas de separação
dos passeios de cimento. Nas revistas
de banda desenhada os helicópteros por esse
tempo sobrevoavam as matas densas
do vietname. Na televisão a preto
e branco os helicópteros movimentavam
as tropas de um para outro
cenário de guerra em territórios lusos
do ultramar. Vivíamos fascinados com esse vórtice
e simultaneamente desiludidos
com a paz insustentável que se vivia na vila
entre duas linhas de fronteira
desenhadas nos passeios de cimento.