Num sonho visitei os subterrâneos da cidade.
Somos outros depois de conhecer ainda
que em sonho os subterrâneos da cidade.
Quando lavamos os dentes ou a meio
da noite acendemos o candeeiro
da mesinha de cabeceira não
imaginamos que a água e a electricidade
chegam a casa percorrendo os
labirintos subterrâneos da cidade.
Quando ligamos o esquentador ou puxamos
o autoclismo com a displicência
de quem voga dois
palmos acima do terreno mundo
não imaginamos que o gás e o esgoto
não obstante em sentido diverso
correm nas tubagens e nas manilhas
dos subterrâneos da cidade.
Ao movermos o rato para navegar
na internet ninguém imagina
que os ratos verdadeiros e a fibra
óptica partilham as mesmas condutas
nos subterrâneos da cidade.