sexta-feira, julho 01, 2005

Encher a boca


A economia. A economia. A economia. Fala-se da economia como se a economia existisse de per si, desligada do mundo. Como se a economia não fosse o resultado do que somos nas actividades que desenvolvemos, do modo como nos organizamos na agricultura e desbaratamos ou não os subsídios em viaturas topo de gama, do modo como organizamos as estruturas de comercialização dos produtos da terra, do modo como os serviços públicos dão resposta às exigências dos cidadãos que servem ou é suposto servir, do modo como enriquecemos ou empobrecemos alegremente organizando ou destruindo o território e os recursos. Como se a economia não fosse o resultado disso tudo, da indústria que temos ou poderíamos ter, do turismo que é de qualidade ou de chinelos, do modo como nos organizamos em termos energéticos e de como nesse caminho somos mais ou menos dependentes da escalada de preços dos barris. Mas não: a economia é um excelente palavrão para continuarmos a deixar de lado o essencial e nos ficarmos pelo acessório dos clichés, enchendo a boca e colocando um ar grave, circunspecto, doutoral.