sábado, maio 28, 2005

As casas


jcb

Não há um instante preciso em que possas dizer: acabaram as obras. Se viste a casa a crescer desde os alicerces, se viste as primeiras pedras do que viriam a ser os muros de pedra, se viste as primeiras árvores do jardim ainda enraizadas nos vasos - não há um instante em que possas dizer: acabaram as obras. Porque uma casa é também o rumor do vento a bater nas portadas que é preciso fechar, a luz demorada de julho na tijoleira das açoteias onde é preciso enrolar as esteiras de esparto, a sombra nos corredores das pessoas que se movimentam entre a cozinha e o pátio. E isso continua, dia após dia, enquanto as árvores crescem, enquanto nas paredes e nos muros se demoram as águas que já poisaram no tanque, que já subiram pelas raízes das alfarrobeiras, que já desceram de novo sobre os campos lavrados, que de novo se erguem até ser nuvem ou a memória do vento.