quarta-feira, março 21, 2012

[2.]

A ENERGIA EÓLICA

Para respirar
eu procurava nesse tempo as vagarosas pás
dos aerogeradores.
Corria o agosto
e discutia-se o estilo
nas esplanadas das praças. E alguém dizia «o verso,
a semiótica»
e adormecia
de caírem
com a calma
as aves
nos relvados. Outros
[por exemplo]
defendiam a obscuridade
e usavam a álgebra e logaritmos
e traziam som e estrados portáteis a que se acedia
pela levitação.
Só eu não tinha uma teoria
e preenchia
os impressos das finanças:
corria o agosto e
nesse tempo [lembro-me]
a energia eólica
deduzia-se
dos impostos.