Devem estar marcadas eleições
intercalares em Mértola
para a Junta de Freguesia: uma carrinha
com altifalantes e doze
militantes de prospectos
lutavam (quase me pareceu
em vão) na manhã de sábado
contra a indiferença das casas
e dos largos. A caminho de Moreanes
era ainda o som da propaganda
que teimava em erguer-se
abrindo-se o vidro do carro
a deixar entrar o odor misturado
dos matos. Mas depois esperava-nos
na casa de pasto do Pires
a exposição anual
de pintura: o Rico Sequeira
a relembrar a importância decisiva
de Weimar para a história
da civilização, o Eurico
a falar da estranha ética
de Tóquio, a perdiz
da Graça Morais pendurada
numa parede de cal, o António
Inverno a trazer o seu sorriso
de criança às mesas
da esplanada. O certo é
que a lampreia e o cozido de grão e
os vinhos do Alentejo
ocuparam quase sempre o
lugar que estaria reservado
às artes e à reflexão
sobre as imperfeições do mundo.