sexta-feira, dezembro 07, 2007

Arqueologia

As paredes de pedra e os vidros
da janela separavam do mundo
o crepitar doméstico
do fogo da lareira e o odor
do pão ainda quente.
Na mesa do escano
a criança desenhava os diques.

A ameaça
é um dissimulado rumor
que não exige defesas.
Crescendo nas margens
em vez do dilúvio
a água começava por delinear nos troncos
das árvores os iluminados círculos
dos anos.
Na mesa do escano
a criança desenhava os diques.

O olvido e a tormenta
queimam em seu redor o oxigénio
até ao deslaçar imperceptível
das palavras. No enxofre do vácuo
em partes desiguais a tempestade
e as pétalas cor de zinco
das rosas do inverno
ardem.

O que fica é o breve
e quase inexplicável espólio de quatro
pedaços de cerâmica e um
desenho nas suas linhas trémulas
a lápis.