Não perder o pé. Nestes primeiros anos que já não
vão sendo tão poucos como isso
do século vinte e um a lírica
ainda compensa. Não vem nenhum
propriamente mal ao mundo literário quer dizer
aos seis críticos literários de serviço
e quase me atrevia a acrescentar o manuel senão é
ver se por exemplo o rui não entrou na antologia
em deixar a gente escapar-se-lhe
a descrição da serração antiga ou a emoção de topar-se
de súbito num imprevisto fim de tarde com
as encostas frias onde a bétula teima em erguer-se.
Mas com parcimónia bom será de ver. Porque
um elevado grau de abstracção
decorrendo directamente de questões filosóficas
ou a concisão ou a perturbação
descritiva que rejeita nexos lógicos
ou sobretudo uma poesia assumidamente urbana
ou uma poesia com permanentes
referências cultas que pode mesmo
abusar da sinestesia num delírio surrealizante
já sem relações algumas com o objecto de partida
é outra loiça. Depois há o óbvio: não enxamear a coisa
de adjectivos ou mesmo reduzi-los ao osso
não falar do corpo ou falar que a
metáfora não faz mal a ninguém mas então não
escrever a palavra corpo
e sobretudo não escrever a palavra pele
e as questões sociais por amor de deus.
As qualidades claro não é devagar que se perdem
mas o poeta ou tem um ofício
ou então que vá mas é com mais previsível
proveito trabalhar nas obras.