segunda-feira, abril 30, 2012

[É de longe]

É de longe
que mais nitidamente
as onduladas
cumeadas
se desenham.
O estrangeiro
é muitas
vezes o país
onde melhor se
recortam
contra o céu
azul da infância
os telhados
de casa
e as árvores
dos pátios.

sexta-feira, abril 27, 2012

[Cristiano Ronaldo]

Tu nem podes imaginar
entre as festas de Los Angeles com a Paris
Hilton e as conversas por telemóvel
com a Irina Shaik
ou quando vais a um restaurante de Lisboa
comer o bacalhau com natas
tanto da preferência dela
o mal que nos fazes
meu grande filho da mãe
por tão brilhantemente te desenvencilhares
no jogo da bola
e nos deixares estarrecidos a torcer
por ti
esquecendo que a tua camisola
é a branca
do Real Madrid.

Gostaríamos que soubesses
meu caro Cristiano Ronaldo
que nos chegamos a envergonhar de gritar o teu nome
em voz alta
como se pudéssemos esquecer a insídia
da contratação de Di Stéfano
quando Juan Francisco Paulino Hermenegildo
Teódulo Franco y
Bahamonde fazia de conta que gostava de futebol
apenas para que mais reluzentemente a Espanha
pudesse
afirmar-se na Europa e no resto do
mundo.

Tu és
meu caro Cristiano Ronaldo
a nossa pedra no sapato.
Hoje
por exemplo
quando vimos em menos de um minuto
dares a volta ao resultado
e humilhares o Barcelona na sua própria casa
tu sabes lá Cristiano Ronaldo
o quanto nos custou no mais
fundo do coração gritar o teu nome em voz alta
divididos entre seres português
e sabermos que o rei de
Espanha se dá ao luxo de fracturar a anca
por tropeçar de caçar elefantes no
Botswana e sorridente pousar com os bichos caídos ao lado
como se fizesse uma habilidade igual às tuas quando
te limitas a virar brilhantemente um resultado
num único minuto de milagre
levando-nos a ser de um clube a que não
gostaríamos de pertencer. Por

isso te pedimos muito
Cristiano Ronaldo
que compreendas o quanto perdemos de nós
sempre que gritamos
o teu nome
em voz alta.



21 Abril 2012.

quinta-feira, abril 19, 2012

[acendiam o lume]

As mulheres
fechavam as portas e as janelas
acendiam o lume
e ficavam
à lareira
a fazer
as camisolas
do inverno.
E era ainda
o verão.

terça-feira, abril 17, 2012

[Em todos os poemas há/ a casa]

Em todos os poemas há
a casa. Para que tudo possa começar
onde deve começar. No pátio
e na escaleira da entrada. Na porta
pintada de verde com o forro de zinco. Nos retratos
a sépia pendurados nas paredes
da sala. Na pedra da lareira. Nos corredores
a dar para a sombra dos quartos. Na varanda.
O mundo é uma repetida enunciação.

Depois vem a luz do verão. A luz intensa
que em vez das palavras
desloca os objectos. Uma travessa
de cerâmica. Um pote de ferro. O assador
das castanhas. A luz que fica agarrada aos vidros
das janelas. A luz que espalha nas traves do soalho
os losangos de haver muitas
afastadas vozes misturadas
às folhas dos álamos jovens.

E o inverno. Para que a tempestade
traga de longe o rumor do vento nos arames
das vinhas. Para que uma sombra possa repetir
todas as sombras
que o labirinto da idade abateu
sobre os corações desabitados.

Em todos os poemas há
a casa. Porque a casa é também o lugar
das viagens. Numa manhã dos meses de junho
alguém fala do tempo antigo das mulheres do rio
de janeiro como se a sede
pudesse matar-se com a água do cântaro
arrumado ao lado do escano.

Uma fotografia guardada num álbum
de fotografias. Numa das salas da casa.
Numa das gavetas da cómoda
que não sabemos se alguém
haverá de abrir. O poema. A desvalorizada moeda.
Onde havia uma casa
e o verão e o inverno
subiram um dia a escaleira de pedra.

segunda-feira, abril 09, 2012

[klee em 1938]



jcb. acrílico sobre papel de arroz.

quinta-feira, abril 05, 2012

[novembro]




jcb. acrílico sobre papel.

terça-feira, abril 03, 2012

[uma alegoria: paula rego]




jcb. acrílico sobre papel.

[segirei: março de 2012]



jcb. acrílico sobre cartão, 0.65x050 m.