As amendoeiras não precisam
de podas de rejuvenescimento.
Por isso crescem, livres,
nas suas copas amplas, entrelaçando
os ramos, misturando
as folhas de uma a outra árvore.
No chão do pomar,
na tarde iluminada pelo Sul,
fica uma sombra espessa
e simultaneamente leve.
E o dia, muito azul,
é assim que permanece,
suspenso, de súbito rendido
a essa liberdade livre.
domingo, abril 30, 2006
quinta-feira, abril 27, 2006
A Ignorância
Sobre todas as coisas
elejo a Ignorância:
felizes dos que são tocados
pela Sua graça espantosa
de permanecermos estúpidos
e ausentes;
felizes dos que adormecem sem o sobressalto
de um dia se suceder ao outro
na sua imensa
vertigem.
elejo a Ignorância:
felizes dos que são tocados
pela Sua graça espantosa
de permanecermos estúpidos
e ausentes;
felizes dos que adormecem sem o sobressalto
de um dia se suceder ao outro
na sua imensa
vertigem.
quarta-feira, abril 26, 2006
terça-feira, abril 25, 2006
terça-feira, abril 18, 2006
segunda-feira, abril 17, 2006
A Páscoa, o Algarve, as esplanadas
jcb
Planeávamos tudo
menos o instante
em que se desmontavam as esplanadas
e ficava nas mesas a sensação
estranha
das coisas que acabam
antes do tempo.
Havia o mar, havia
o rumor
ainda distante
do Verão.
Planeávamos tudo
menos o instante
em que nos despedíamos
e o amor
revertia
de novo da sombra,
do medo, da indecisão.
Planeávamos tudo
menos o instante
em que se desmontavam as esplanadas
e ficava nas mesas a sensação
estranha
das coisas que acabam
antes do tempo.
Havia o mar, havia
o rumor
ainda distante
do Verão.
Planeávamos tudo
menos o instante
em que nos despedíamos
e o amor
revertia
de novo da sombra,
do medo, da indecisão.
sábado, abril 15, 2006
O primeiro voo
Parecem fascinadas pela luz que vem do buraco da caixa-ninho. Prontas para o primeiro voo. Prontas para o milagre de verem o mundo pela primeira vez.
A caixa-ninho está suspensa do pau encostado ao tronco da alfarrobeira em primeiro plano, à esquerda.
A caixa-ninho está suspensa do pau encostado ao tronco da alfarrobeira em primeiro plano, à esquerda.
Para quem não se recorda, era este o estado da arte em 28 de Março:
jcb
quarta-feira, abril 12, 2006
Soneto imperfeito
[Florbela, 1918]
Em mil novecentos e dezoito, nesta mesma
casa de Quelfes, Florbela corrige devagar
alguma da excessiva emoção dos sonetos
autógrafos do Livro de Mágoas. Por
um instante recorda o calor que em Évora, um
ano antes, se desprendia das pedras cor
de laranja do Liceu, e como por
vezes o futuro se desenhava plausível
nos intervalos da dolorosa descrença
no mundo. Desce depois até ao pátio da
casa algarvia. Mas é como se não houvesse
regressos, a respiração difícil ainda de tanta
luz à pequena sombra duma amendoeira jovem.
Em mil novecentos e dezoito, nesta mesma
casa de Quelfes, Florbela corrige devagar
alguma da excessiva emoção dos sonetos
autógrafos do Livro de Mágoas. Por
um instante recorda o calor que em Évora, um
ano antes, se desprendia das pedras cor
de laranja do Liceu, e como por
vezes o futuro se desenhava plausível
nos intervalos da dolorosa descrença
no mundo. Desce depois até ao pátio da
casa algarvia. Mas é como se não houvesse
regressos, a respiração difícil ainda de tanta
luz à pequena sombra duma amendoeira jovem.
terça-feira, abril 11, 2006
segunda-feira, abril 10, 2006
Labirintos
Procuro em vão, há vários anos, um livro dum determinado autor. Esqueci o título do livro, esqueci o nome da casa editora. Mas sei (ou julgava saber) que foi editado no Porto nos anos setenta. Recentemente, depois de consultar vagarosamente a sua base de dados, um livreiro experimentado insiste que o mais certo é o autor em causa nunca ter sido editado em língua portuguesa; que o livro não exista. Certo. Mas então como explicar que eu tenha visitado Navoloki, Oréanda, Teodosia ou Sinéziorki? Que permaneçam vivas na memória as folhas de salgueiro apodrecidas num charco de água, os plátanos de um parque em Livadia, os troncos brancos das bétulas nas margens do Vistola? Que me tenha apaixonado pela mulher que ficou à janela a ver um barco que se afastava vagarosamente na distância, madrugada ainda, quando de súbito começou a chover?
quarta-feira, abril 05, 2006
domingo, abril 02, 2006
O caderno do Mestre Ferrador
Vinte e seis anos
cabem num caderno de capa negra
de cartão grosso: registo do deve e haver
e do estado dos campos. A vacina
do tétano no mês de Junho
de mil novecentos e sessenta e dois,
as ferraduras novas, a infusão de marcela
ou a tintura de genciana
para o gado vacum remoer,
receitas com alúmen, o canfocitrol,
a essência de terebentina,
a injecção para as inflamações
nas tetas das ovelhas. Chamavam-lhe
o Mestre. E o Mestre gostava
dessa deferência para com a sua Arte: vê-se
pela caligrafia apurada, pelo esmero
no alinhamento das parcelas numéricas,
pelo modo como, diz quem o conheceu,
olhava uma mula doente, demoradamente,
e se recusava a emitir opinião
enquanto não passasse ao rigoroso,
minucioso exame científico da besta.
cabem num caderno de capa negra
de cartão grosso: registo do deve e haver
e do estado dos campos. A vacina
do tétano no mês de Junho
de mil novecentos e sessenta e dois,
as ferraduras novas, a infusão de marcela
ou a tintura de genciana
para o gado vacum remoer,
receitas com alúmen, o canfocitrol,
a essência de terebentina,
a injecção para as inflamações
nas tetas das ovelhas. Chamavam-lhe
o Mestre. E o Mestre gostava
dessa deferência para com a sua Arte: vê-se
pela caligrafia apurada, pelo esmero
no alinhamento das parcelas numéricas,
pelo modo como, diz quem o conheceu,
olhava uma mula doente, demoradamente,
e se recusava a emitir opinião
enquanto não passasse ao rigoroso,
minucioso exame científico da besta.
Começou hoje a Primavera
jcb
2 de Abril de 2006; caixa-ninho da alfarrobeira; nasceram hoje as primeiras seis caldeirinhas-bebé; faltam quatro.
2 de Abril de 2006; caixa-ninho da alfarrobeira; nasceram hoje as primeiras seis caldeirinhas-bebé; faltam quatro.
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