jcb
sexta-feira, março 31, 2006
terça-feira, março 28, 2006
Só então o milagre, 1
Os dias claros, leves ainda
de regressarem as aves
dos relevos da península
deixando o azul das águas da ria
pendurado nos ramos
das figueiras, agarrado
à cal dos muros dos tanques,
poisado na tijoleira
das açoteias, nos
fios de esparto, nas mãos
demoradas das crianças
a ver chegar a noite
por detrás dos espelhos:
só então o milagre.
de regressarem as aves
dos relevos da península
deixando o azul das águas da ria
pendurado nos ramos
das figueiras, agarrado
à cal dos muros dos tanques,
poisado na tijoleira
das açoteias, nos
fios de esparto, nas mãos
demoradas das crianças
a ver chegar a noite
por detrás dos espelhos:
só então o milagre.
domingo, março 26, 2006
Nos fins de Março
Nos fins de Março, a meio da tarde, uma página em branco (ou um verso) parece esconder-se (ou anunciar-se) nas flores das ameixeiras.
sábado, março 25, 2006
É esta luz
É esta luz intensa do meio
da tarde que me faz
pensar nos mistérios do mundo:
no amor, no desejo, na morte,
no voo desamparado
das aves nas vésperas
do equinócio,
no modo como as famílias
nos dias intermináveis de domingo
circulam quase sem destino
entre as residências
das periferias
e os estacionamentos subterrâneos
do centro comercial.
da tarde que me faz
pensar nos mistérios do mundo:
no amor, no desejo, na morte,
no voo desamparado
das aves nas vésperas
do equinócio,
no modo como as famílias
nos dias intermináveis de domingo
circulam quase sem destino
entre as residências
das periferias
e os estacionamentos subterrâneos
do centro comercial.
quinta-feira, março 23, 2006
Literatura (falam as personagens)
o meu amor por ti era tão real que cheguei a acreditar que não éramos simples personagens dum romance premiado no círculo de leitores.
nos primeiros capítulos eu desejava-te mais do que é possível imaginar que seja possível amar nas páginas dum livro.
um amor assim não se compadecia com a estrutura narrativa daquela novela de cordel elogiada no expresso.
na página 164 era suposto eu fazer-te uma declaração de amor.
em mim o Autor mesmo quando supõe o contrário não manda a ponta dum corno.
nos primeiros capítulos eu desejava-te mais do que é possível imaginar que seja possível amar nas páginas dum livro.
um amor assim não se compadecia com a estrutura narrativa daquela novela de cordel elogiada no expresso.
na página 164 era suposto eu fazer-te uma declaração de amor.
em mim o Autor mesmo quando supõe o contrário não manda a ponta dum corno.
Cena dum filme de Manoel de Oliveira
Uma biblioteca do séc. XIX. Penumbra. A jovem estudante de filosofia descruza as pernas e deixa cair a chinela. O mestre baixa-se muito lentamente, fascinado, sobressaltadamente excitado. Apanha a chinela. O plano fixo parece durar uma eternidade. Na cena seguinte vê-se o pé da estudante de filosofia, as unhas cresceram-lhe, o plano abre, estão ambos mais velhos.
quarta-feira, março 15, 2006
terça-feira, março 14, 2006
Segredos
Revelavas apenas
o que escondias, como essas
manhãs de névoa em
que tudo subitamente
fica claro e limpo,
leve e luminoso,
trazendo à transparência
os segredos, as traições,
as ocultas frases do amor,
como num livro em branco
onde a nossa história
triste se desenhasse
com todas as letras em cada
uma das suas páginas.
o que escondias, como essas
manhãs de névoa em
que tudo subitamente
fica claro e limpo,
leve e luminoso,
trazendo à transparência
os segredos, as traições,
as ocultas frases do amor,
como num livro em branco
onde a nossa história
triste se desenhasse
com todas as letras em cada
uma das suas páginas.
sábado, março 11, 2006
Em Março
A meio da noite ainda
fria de Março, atravessando
a Praça desenhada para o Verão,
temíamos o silêncio
de nem a memória nos devolver
a corrida das crianças
iluminadas por dentro,
a luz da tarde a incendiar
o azul e o amarelo dos toldos,
o lume aceso nos lancis de mármore,
os copos de cerveja gelada
poisados em mesas de resina,
a juventude indecisa
e o acerto dos seus erros.
fria de Março, atravessando
a Praça desenhada para o Verão,
temíamos o silêncio
de nem a memória nos devolver
a corrida das crianças
iluminadas por dentro,
a luz da tarde a incendiar
o azul e o amarelo dos toldos,
o lume aceso nos lancis de mármore,
os copos de cerveja gelada
poisados em mesas de resina,
a juventude indecisa
e o acerto dos seus erros.
quinta-feira, março 09, 2006
Munch (1863-1944) revisitado en Olsen
Nada separa el Auto-Retrato Después de la
Gripe (c. 1919) y el Auto-Retrato Entre el
Reloj y la Cama, iniciado en 1940 y
concluido en 1942, en tres años sucesivos
de abandonos y regresos, tal vez ya no
mojando la tela com agua del grifo y
exponiéndola a los elementos físicos, y después
raspando, pintando de nuevo, volviendo a raspar.
Y nada separa estos dos cuadros del
terror casi melancólico de otro
óleo de 1881, La Vieja Iglesia de Aker, con las
casas cerradas y la misma imposibilidad de
encuentro y diálogo marcada por el ocre de los
sustentantes y por un cielo iluminado por
su propia sombra.
.................................En Abril de1998, en la
mesa de Olsen, el ingeniero del Instituto de
Hidráulica de Copenhague recupera de la infância el
sonido de las botas de los nazis pisando las hierbas
del pátio de casa de sus padres, donde
Munch, durante ese tiempo, pasara un fin de
semana regresando de Asgardstrand,
y afirma que El Grito (1893, temple
y pastel sobre madera) es ya el retrato
del siglo XX. Y que todos estos cuadros son
el mismo cuadro. Y que Munch habría
necesariamente de morir en una Noruega
ocupada por el ódio, retirado en su
casa de Ekely, para que el arte fuese,
por encima de la técnica y del estilo, una ciencia
semejante a la historia, pero que relata los
hechos de un futuro que por
anticipación es posible aprender
en sus trazos esenciales.
Poema de José Carlos Barros.
Tradução para castelhano: Eva Lacasta Alegre.
In Poema Poema – Antologia de Poesia Portuguesa Actual.
Ed. Uberto Stabile, Punta Umbría, Huelva, 2006.
Gripe (c. 1919) y el Auto-Retrato Entre el
Reloj y la Cama, iniciado en 1940 y
concluido en 1942, en tres años sucesivos
de abandonos y regresos, tal vez ya no
mojando la tela com agua del grifo y
exponiéndola a los elementos físicos, y después
raspando, pintando de nuevo, volviendo a raspar.
Y nada separa estos dos cuadros del
terror casi melancólico de otro
óleo de 1881, La Vieja Iglesia de Aker, con las
casas cerradas y la misma imposibilidad de
encuentro y diálogo marcada por el ocre de los
sustentantes y por un cielo iluminado por
su propia sombra.
.................................En Abril de1998, en la
mesa de Olsen, el ingeniero del Instituto de
Hidráulica de Copenhague recupera de la infância el
sonido de las botas de los nazis pisando las hierbas
del pátio de casa de sus padres, donde
Munch, durante ese tiempo, pasara un fin de
semana regresando de Asgardstrand,
y afirma que El Grito (1893, temple
y pastel sobre madera) es ya el retrato
del siglo XX. Y que todos estos cuadros son
el mismo cuadro. Y que Munch habría
necesariamente de morir en una Noruega
ocupada por el ódio, retirado en su
casa de Ekely, para que el arte fuese,
por encima de la técnica y del estilo, una ciencia
semejante a la historia, pero que relata los
hechos de un futuro que por
anticipación es posible aprender
en sus trazos esenciales.
Poema de José Carlos Barros.
Tradução para castelhano: Eva Lacasta Alegre.
In Poema Poema – Antologia de Poesia Portuguesa Actual.
Ed. Uberto Stabile, Punta Umbría, Huelva, 2006.
domingo, março 05, 2006
A Ética
Alguma coisa aproxima a ética e a estética
como se um e outro conceito fossem indissociáveis
não nos iludam as formas ou a técnica
duma ponte que se limita a unir duas margens
nem a função duma casa ou dum palácio
nem a estrutura dum sistema de justiça
se não houver um princípio matemático
que garanta a proporção e o equilíbrio
como se um e outro conceito fossem indissociáveis
não nos iludam as formas ou a técnica
duma ponte que se limita a unir duas margens
nem a função duma casa ou dum palácio
nem a estrutura dum sistema de justiça
se não houver um princípio matemático
que garanta a proporção e o equilíbrio
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