Tu dizes que é já tarde - e anoitece.
Tu falas em marés - e o mar pressente.
E o sol é nos teus braços que se aquece
em busca de outro núcleo iridescente.
Mas é no dia-a-dia, meu amor,
no pão, numa panela, num cabide,
na cama por fazer, no esquentador,
que tudo se confronta e se decide.
Por isso escrevo em prosa os teus poemas
e mais que a lua, a orbe, a imprecisa
Andrómeda, uma estrela, os grandes temas,
eu escolho o chão que pisas por divisa.
E temo, por incrível que pareça,
que a poesia mate ou enlouqueça.