o mecanismo é o mesmo
nas golas dos açudes
à superfície
é quase invisível o círculo a transformar-se em elipse
mas depois a força helicoidal da massa de
água puxa os corpos para o buraco da descarga de fundo
como a acção de um íman sobre objectos metálicos minúsculos
o mecanismo é o mesmo
pensamos sempre que vemos o que não vemos
é uma tarde vagarosa com
a luz a atravessar os objectos
mas o buraco está debaixo de água e
é imune aos discursos das boas intenções
é refractário à sintaxe
é assim nas golas dos açudes
a hélice invisível puxa-te até ao fundo
primeiro parece apenas uma ligeira rarefacção do ar
depois sentes que a respiração é cada vez mais difícil
no último instante compreendes que
o buraco tem espaço suficiente para passar a cabeça
mas que é impossível
passar o resto
do corpo