sexta-feira, novembro 02, 2012

[não conhecíamos os restaurantes bons]

Que saudades tenho desse tempo
em que não conhecíamos os restaurantes bons
não havia telemóveis
encontrávamos sempre os amigos
a horas desencontradas

subíamos uma rua
descíamos do outro lado do passeio
olhávamos as ementas a adivinhar as meias
doses por detrás dos preços
espreitávamos por um vidro
da janela a
sala das refeições

A comida
o serviço
o ambiente
o bom-gosto o
mau-gosto que procurávamos adivinhar
olhando as gravuras das paredes
tudo era sempre um milagre
pelas melhores
ou pelas piores
razões

Não facilitávamos no vinho
lembro-me
pedíamos a carta
fazíamos de conta
que conhecíamos as marcas todas
éramos uma espécie de príncipes
à procura de um trono

É verdade que não tínhamos
dinheiro para
mandar cantar um cego
ou pôr um manco a correr
é verdade que nesse tempo
não temíamos a censura das frases
politicamente incorrectas

Apenas subíamos a rua
descíamos a rua
à procura de um restaurante
que não tinha outro nome
que o de estarmos
juntos