Num tempo antigo tu disseste que o amor
não era mais que a nossa pedra no sapato
óculos escuros desses de tirar e por
o nosso amor fazia-se em sentido lato
Num tempo antigo tu disseste «é o que faltava
o amor que mata é só o amor que sobrevive»
estarmos tão livres era um nó que nos atava
estarmos tão presos era a forma de ser livre
Depois um dia sucedeu-se a outro dia
custava tanto no silêncio respirar
e um labirinto em vez do xis era o que havia
no nosso mapa de tesouros de brincar
Que coisa é essa que persiste e sobressalta
será verdade que sempre sobressaltou
como é possível sentir tanto a sua falta
como é possível um amor se não se amou
Óculos escuros desses de tirar e por
só isso resta do amor neste retrato
e no entanto hoje sabemos que o amor
foi muito mais que a nossa pedra no sapato